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um novo amanhecer

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UM NOVO AMANHECER

Que foi feito de nós?! Porque olho para ti e te sinto diferente? Porque os anos cansam os nossos sorrisos e tornam-nos mudos de sentimentos?

Estava na praia, um dia de muito sol, muita paz a pairar naquele céu luminoso, enquanto no meu coração chovia. Trovejava dentro de mim a raiva, como se tratasse de um dia de denso inverno. Daqueles que só apetece ficar em casa e esquecer que é dia. Não poderia deixar-me abater. Não poderia deixar morrer em mim esta força de viver. Na verdade, sentia-me envelhecida e, os meus pensamentos castigavam-me cruelmente. No entanto, há sempre uma parte de mim que se tenta levantar e reagir. Lutar pelo que ainda sou. Viver por tudo o que mereço sentir em mim. A minha mão pousou sem alento na minha barriga. Mas o olhar perdeu-se no horizonte e o corpo, o corpo procurava a frescura de um novo amanhecer.

As horas passavam acobardadas. E ao longe, revi-me. Via-nos a nós dois. Num daqueles passeios lindos e quentes, onde se ouviam os chilreios dos pássaros, mesmo que eles não estivessem por ali. Tal canto majestoso saía de dentro de nós. Era isso. Os nossos sonhos abraçavam-se e, os nossos passos, marcavam lentamente a verdade de uma história de amor. Compunha-mos um amanhã nas ondas de hoje e eu, eu senti-me bem assim. Tragando em mim cada minuto em que nos entregàvamos. A tarde passou-se entre um passeio de paz ao longo da praia… entre gracejos e carinhos. O dia ia-se despedindo de nós lentamente, como se tivesse pena de nos dizer adeus. Parecia que também ele estava a saborear tamanha entrega. E, tal como eu, não queria olhar de frente a realidade. Mas que realidade?! Aquela era a minha realidade.

Ao fim da tarde, ainda o sol espreitava maroto quando resolvemos fazer uma pequena fogueira. Algo que não prejudicasse o ambiente nem pudesse embalar nos braços do vento de encontro às àrvores. Era passos certos mas cuidadosos. Assamos chouriços que ele trouxera no carro e eu contemplava-o a dedilhar a viola. Sim João tinha uma viola e, tocava lindamente. Compunha versos tão expontaneamente que me maravilhava. Era um homem sensível. A tarde não estava agradável. Estava deslumbrante e mágica. Pelo meu corpo subiu o desejo de sucumbir nos seus braços, enquanto sentia o seu sorriso abraçar-me. Comemos pousadamente e, perguntava a mim mesma se ele estaria a sentir o mesmo. Parecia-me muito calmo, a sua serenidade trazia-me paz mas deixava-me insegura. De repente, não hesitei, despi-me sem o olhar e segui lentamente para a água. Estava perto dela e, a praia estava deserta. Senti o seu olhar percorrer o meu corpo mas não poderia correr para ele. Tinha que apaziguar o meu desejo. Decidida entreguei-me ao mar e sorvi toda a sua frescura, sentia-me dona do tempo. Olhei em direcção ao João e, fiquei maravilhada porque o vi despir-se e correr para mim. Perto um do outro disfarçamos. Não sei se por receio ou por um outro sentimento inseguro qualquer. A verdade é que estivemos para ali inventar do que falar. Cheguei-me a ele e, nenhum de nós resistiu. Rimos, gracejamos. Era tão bom sentir a sua pele na minha. A água aqueceu os nossos sorrisos, o nosso olhar perdeu-se para lá de nós. As mãos limitaram-se a saborear a verdade do momento. Estávamos perdidos num encontro fantástico, onde os corpos deixaram de se sentir dois. Deixamos que as ondas nos levasse até mais perto da areia. Estávamos deitados, lado a lado, de mão dada e eu, eu ainda conseguia ouvir a música que ele tocara momentos antes. A lua espreitava, como se não quisesse incomodar a nossa descontração. Despidos de preconceitos e pudores desvendamos segredos do nosso mundo e entregamo-nos ao sabor do vento. O desejo foram tão pautadamente ritmado que nada mais nos importava que não fosse aquele momento. A entrega total, onde a única testemunha seria a lua. O tempo para mim parou naquele lugar. A vida tinha atingido o climax para nós dois. Espasmos de ternura gracejavam ante este abandono sem tréguas. E, ainda hoje sinto o sabor daquele fim de tarde a querer abraçar-me, a pedir-me perdão por ter-se abandonado em mim com a força com que a realidade me desperta.

Passaram-se dois anos depois dessa entrega, celebrada por sorrisos e a dança mágica das agues que nos acariciavam. Hoje, na mesma praia, no mesmo local… estou só! Sem ti, sem os sonhos que nos fizeram percorrer o horizonte. Mas trago dentro de mim um novo amanhecer. A vontade de lutar e vencer. E esta mudança cruel que me corroe pouco a pouco, enquanto o meu sonho moribundo tenta prevalecer. Na minha mão sinto o teu grito a dizer que vai valer a pena. Na minha alma sinto a incerteza do amanhã a calcorrear os meus pensamentos. Hoje, sinto-me só. Não porque o João não esteja na minha vida. Sinto-me só porque ele não deseja a nova vida que vibra dentro de mim. Se é dele? Claro que sim! É nosso, a maior prova de que os nossos mundos se misturaram e o que eu julgara ser um sonho a exalar o perfume dos nossos sorrisos se concretizou. A verdade, a verdade é que outros ventos sopravam entre nós. Ventos de uma outra primavera que o chamava. A vontade de continuar a ser o rapazinho rebelde de que tanto a mama se orgulhava. Era uma responsabilidade que não desejava. Quando tentavamos o diálogo. Da sua boca saía palavras odiondas e cruas, e o meu olhar sentir o frio e cruel punhal daquele estranho. Estranho sim, ele parecia um estranho. Eu olhava-o enquanto se vestia e perfumava e perguntava a mim mesmo o que me atraíra tanto naquele estranho. As suas palavras egoístas dilaceravam-me friamente. Mas algo dentro de mim já estava decidido. Sim, este desejo forte de vida que já mexia comigo, influenciava o meu estado de humor e sensibilizava o meu sentimento de culpa. Senti que por ele seria capaz de tudo. Era um amor diferente e, memso parecendo ausente, ele já preenchia muitos desejos e vontades. Mostrei-lhe a praia, falei-me nas entregas que me fortaleceram e, lembrei-me das manhãs que me enfraqueciam. A minha cabeça latejava de dor, os pensamentos rasgavam-me os sentidos friamente e, sim, sentia-me só. Hoje a lua apareceu mais cedo do que o normal. Vinha brilhante e o meu olhar parecia enfeitiçado por ela. Ela abraçou-me terna, como se fosse cúmplice da minha história e, deixou-me vaguear por ali como se, de novo fosse dona do momento.

Voltei para casa.São 10 horas da noite. Entro e, vejo-o sentado no sofá a ver televisão. Hábitos que a rotina nos prendou. Mas, algo de diferente se impunha. Olhei em volta e não conseguia perceber o quê. Bom. Talvez não quisesse perceber. Até que reparei que, ao lado do sofa se encontrava uma pequena mala. O silêncio falou por nós, a distância tornou-se densa e abismal. A decisão dele já estava tomada. Iria voltar para a casa da mãe, ou talvez para um quarto, alugado algures.

Voltei-me, não queria saber. Não me apetecia vomitar revoltas ou tragar ódios, ressentimentos. A minha indiferença deu-lhe a liberdade de partir. Fui ao quarto, tirei a roupa e resolvi ir tomar banho. As minhas lágrimas misturavam-se com a água que refrescava o peso da dor. Os sonhos antigos escoavam-se pelo ralo da banheira. Fecho os olhos e, sinto a vontade de ficar por ali. Passada toda aquela correria de pensamentos, tormendos medos e sentimentos de culpa, senti-me mais leve, mais limpa, mais eu. A toalha acariciou a minha pele, A escova acarinhava os meus cabelos e, dentro de mim, vibrava cada vez mais forte a vontade de viver. Lentamente ia andando para a sala. O sofa estava vazio, a televisão anunciava mil e uma desgraças e a porta estava aberta, à espera do nada. Dirigia-me para a porta e fechava-a lentamente, enquanto a minha visao queria alcançar o impossível. O meu coração bate violentamente. Fecho a porta. Mudo de canal. Fui bater ao canal da música. Senti a paz a dançar em mim, numa mistura confusa de desespero, insegurança mas, aquela vontade incessante de vencer. Uma verdade me ia sendo segredada ao ouvido: - tu não estás só. Existe dentro de ti a vontade de um novo amanhecer. Deixa-o vibrar na pauta da vida. Deixa-o perfumar os teus dias e ensinar-te que vale a pena tentar apagar a dor. Essa voz doce entrou em mim vinda do nada e preencheu o meu ser. Então decidi não alarmar. Esperar pelo amanhã e ver o que me traria para vislumbrar esse novo amanhcer.

07/09/06
M.R.F.
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Comments36
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elsombrero's avatar
Uffffa! O que me vale é que é ficção:lol:
bjufinhas princesa:rose: